Não é coisa pouca
Não gosto de tratar de assuntos pessoais publicamente, mas já que Hugo Mendes disse o que disse à frente de uma câmara que ele julgava estar a transmitir em directo o que se fazia, nada me resta que não responder, também, publicamente.
Ontem, na blogoconferência, fiz a José Sócrates uma pergunta extremamente simples sobre a aplicação do SIADAP em 2008. Há manifestas falhas nos números em boa hora denunciadas e, já que durante o encontro José Sócrates referiu os 90% de funcionários públicos avaliados com o seu ar triunfal, não resisti a colocar-lhe a questão. Os pormenores poderão ser vistos quando publicar o vídeo, mas basicamente, José Sócrates não conhecia os números e tentou dar a volta à questão. Insisti na pergunta, porque considerei aquilo importante e nova resposta vazia. Entretanto, Hugo Mendes, visivelmente incomodado com o facto de José Sócrates não ter a resposta na ponta da língua, mexe-se muito na cadeira e começa-me a dizer que tinha que ver com a entrega de objectivos (Hugo, entregar objectivos não é ser avaliado); ainda mais incomodado, correu para junto de José Sócrates para lhe segredar ao ouvido a sua versão para uma resposta sofrível (pareceu-me que Sócrates nem ligou). Insistente, Hugo Mendes ainda escreveu um papelinho que fez chegar a José Sócrates. Acabei por desistir da pergunta, que o incómodo já era demasiado.
Logo a seguir a mim, foi Hugo Mendes a ter a oportunidade de fazer uma pergunta (nem percebi bem qual foi) a José Sócrates. No início da pergunta Hugo Mendes diz esta pérola, que cito de memória: «não vou fazer nenhuma pergunta para aparecer no noticiário das 8. Penso que confrontar os outros com números que os outros não conhecem é pouco ético». Pois, Hugo Mendes, tenho a dizer apenas duas coisas: em primeiro lugar, José Sócrates recebeu-nos para que fizéssemos precisamente as perguntas que quiséssemos fazer e julgo que uma pergunta sobre o SIADAP não é propriamente nada do outro mundo. Em segundo lugar, ao contrário de outros, eu não sei o que é que José Sócrates sabe ou não antes de lhe perguntar o que quer que seja. Supus que soubesse, dado ter referido a percentagem total. Estas coisas fazem comichão, bem sei. Mas nem tudo aquilo que não gostamos especialmente é falta de ética. E, para mim, que não ando no meio, acusar-me de falta de ética não é coisa pouca. É que não conheço o Hugo Mendes de lado nenhum. Fiquei feliz por, pelo menos, José Sócrates no final ter vindo à minha beira dizer que não houve nenhuma falta de ética e até tive o prazer de lhe dar os endereços das notícias que se referem a estes estranhos números.
Agora para os leitores do Jamais, digo que mais pormenores da pergunta e da resposta virão mais tarde, com o respectivo videozinho.