Ainda o encontro de Sócrates com os blogues
Diz-se aqui que a mera tentativa de "comparar" - sim, simplesmente "comparar" - a recente iniciativa de pôr Sócrates a responder a bloggers com qualquer outra sua congénere realizada no passado em Portugal é "pura ficção". Estamos, pois, proibidos de "comparar" o encontro de Paulo Rangel com bloggers durante a campanha eleitoral para as eleições europeias com a epopeia do Primeiro-Ministro. Diz-se que nunca houve nada assim porque nunca um líder partidário e Primeiro-Ministro se disponibilizou para uma conversa deste tipo. Isso é indesmentível. Mas proíbe a "comparação"?
Implicitamente, Paulo Rangel é um dos políticos "menores" que não pode ser comparado ao Primeiro-Ministro. Convém, no entanto, recordar que era cabeça-de-lista para o Parlamento Europeu, e líder da bancada parlamentar, do partido que acabou por ganhar essas eleições. O que resulta daqui? Apenas que o significado político das duas iniciativas não é exactamente o mesmo, mas certamente que ambas são "comparáveis".
Resta ainda o argumento de que naquela sala estiveram com Sócrates bloggers das várias tendências políticas, e no encontro com Rangel estiveram maioritariamente pessoas que afirmaram publicamente o seu apoio ao candidato. Ora, eu estive lá nessa noite no Nicola com Rangel e posso testemunhar que o homem correu muitos riscos apesar da assembleia reunida. Muitos dos apoiantes de Rangel não lhe facilitaram a vida, e não perderam a oportunidade para o criticar. Na parte que me toca, a única intervenção que fiz foi para criticar algumas das ideias de Rangel, e não deixei de o fazer com severidade. E não vi ninguém a fazer-lhe favores.
Sócrates correu riscos? É verdade, o que é meritório. Mas Rangel também os correu. Os temas europeus não beliscam tanto o capital político do candidato que se expõe numa conversa deste tipo? Não é menos verdade. Mas naquele momento era disso que se falava. Este é o início de um exercício de "comparação". Faz sentido proibi-lo?