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Jamais

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01
Ago09

O ruído socrático

Nuno Gouveia

Nestes últimos dias temos vindo a assistir a manobras de diversão por parte do Partido Socialista, que têm tido eco nos sectores afectos, sejam eles militantes, independentes ou mesmo aqueles que não assumem a sua veia socrática, apesar de estarem sempre dispostos a servir os intentos do líder.

 

Não é preciso ser especialista em marketing politico para perceber o que vai na cabeça dos spin doctors socialistas. O PS parte para a campanha eleitoral em posição fragilizada, depois da implacável derrota das europeias. A confiança dos portugueses no governo tem vindo a baixar acentuadamente nos últimos meses, e não se vislumbra melhorias nos próximos tempos. A defesa do legado destes últimos quatro anos não se afigura fácil, apesar da propaganda surreal com que o PS tem vindo a inundar a opinião pública. Eles sabem que estas eleições não podem constituir um referendo sobre os últimos quatro anos, pois têm a consciência que se assim for, as eleições estarão perdidas. É hoje evidente para todos que Portugal não está melhor do que há quatro anos, o que seria expectável depois das promessas todas de 2005.

 

A estratégia socialista assenta em dois vectores essenciais: virar a temática destas eleições do avesso, direccionando a discussão política para as oposições e culpar terceiros sobre o insucesso da sua legislatura (o governo anterior ou a crise internacional).


Dentro do primeiro ponto, a lógica tem sido lançar “farpas” sobre a oposição, especialmente sobre o PSD, dizendo que este nada tem de oferecer de novo ao país, insistindo na fábula que não tem propostas. Depois de terem lançado um programa eleitoral extremamente vago, uma quase cópia do de 2005, com algumas inovações folclóricas, têm aproveitado o facto do PSD ainda não ter apresentado o seu programa eleitoral, mesmo quando em 2005 apenas o fizeram três semanas antes das eleições. E recordo que o PS apenas apresentou o seu esta semana, mas já andavam há meses a criticar o PSD por não o mostrar aos portugueses. Depois surgem as queixas de “bota-abaixismo”, palavra cara ao português técnico de José Sócrates, e as criticas à oposição. Isto inclui-se ainda na estratégia ensaiada naquele cartaz infame “O PS combate a crise, as oposições combatem o PS”. O que os spin doctors socialistas pretendem transmitir é que apenas o PS está preocupado com a crise e os portugueses, enquanto os outros partidos apenas querem combater o PS, logo o país.  Estou certo que o PS desejava era governar sem oposição ou sem que esta lhe apontasse as sua falhas. Mas a vida democrática é mesmo assim...

 

No segundo ponto, têm insistido que está mal no país, deve-se exclusivamente ao governo do PSD/CDS, que durou entre 2002 e 2005 e à crise internacional. Esquecem-se, obviamente, que em 2005 prometeram o sol aos portugueses, quando apenas se limitaram a gerir a crise estrutural que o país enfrenta desde o governo socialista de António Guterres. A crise internacional é de facto um fardo pesado para o país, mas importa recordar que nunca antes dela rebentar Portugal esteve bem, antes pelo contrário. A promessa de colocar Portugal a convergir com a União Europeia nunca passou de uma miragem durante o governo Sócrates.

 

Em grande medida serão estas as grandes linhas orientadoras da estratégia do PS na próxima campanha eleitoral, adornada por uns números redondos sobre sua governação, muitos deles elaborados nos gabinetes dos corredores da propaganda socrática.

 

Será este o ambiente que o PS irá tentar impor na campanha eleitoral. Resta às oposições saber contestar este plano, apresentando ao país a verdadeira imagem de uma legislatura falhada, que não conseguiu inverter o empobrecimento que Portugal tem vindo a sofrer desde o final da década passada.

 

2 comentários

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Jamais - Advérbio. Nunca mais, outra vez não, epá eles querem voltar. Interjeição muito usada por um povo de dez milhões de habitantes de um certo cantinho europeu, orgulhoso do passado mas apreensivo com o futuro, hospitaleiro mas sem paciência para ser enganado, solidário mas sobrecarregado de impostos, com vontade de trabalhar e meio milhão de desempregados, empreendedor apesar do Estado que lhe leva metade da riqueza, face à perspectiva terrível de mais quatro anos de desgoverno socialista. Pronuncia-se à francesa, acompanhado ou não do vernáculo manguito.

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