Sócrates falhou a sua oportunidade, não merece outra.
Há quatro anos, pela primeira vez na sua história, o PS ganhou uma eleição com maioria absoluta. Ao lado dele, a restante esquerda – o PC, o Bloco – cresceu. Isso significa que muitos eleitores do chamado centro e da direita (em Portugal partidariamente identificados com o PSD e com o CDS/PP) contribuíram para essa maioria. Sócrates não se tornou absoluto pela esquerda. Foi a direita, desagradada com o interregno de 2002-2004, que “ajudou” o PS de Sócrates a voltar ao poder que ocupa quase ininterruptamente há catorze anos.
O mandato que o PS recebeu – para fazer o que devia ser feito – redundou, afinal, num exercício frívolo e quase unipessoal destinado a apontar cada um dos portugueses como um inimigo potencial, uma corporação. Em vez de governar para as pessoas, Sócrates e os seus dedicaram-se a governar contra as pessoas. Em vez de “reformar”, essa jargão sem conteúdo útil a não ser o da propaganda analfabeta, o PS limitou-se a limpar algum pó e, no essencial, a estragar a mobília. Em vez de colocar o partido ao serviço do Estado, o PS apropriou-se do Estado para servir o partido. Em vez de estimular a dita sociedade civil, Sócrates e os seus obrigaram-na à mais rude das dependências e à mais infame das complacências. Partido do “código genético” da democracia, o PS, com Sócrates, representa hoje em dia uma séria ameaça às liberdades formais e materiais da cidadania.
Tomado de assalto por pessoas sem um módico de cultura democrática, o PS de Sócrates deixa um país mais periférico do que aquele que recebeu da chamada direita em 2005. É esse país que este blogue procurará denunciar nas próximas semanas propondo, em alternativa, que os seus leitores optem, em Setembro, por uma maneira diferente de encarar a política. Isto é, por um registo que valorize a verdade em vez da imagem, a realidade em vez da fantasia, a credibilidade em vez de uma tortuosa e difícil relação com a verdade.
Temos a noção de que a política, em democracia, é imperfeição, erro, tentativa, contingência e autoridade imposta por si mesma e não por birra ou por tiques de autoritarismo parolo. E de que não se governa para uma abstracção ou em nome de uma abstracção chamada, por exemplo, esquerda moderna. Portugal não está condenado a ser um laboratório de experimentalistas de ocasião agarrados a lugares-comuns sem sentido. A verdade deste blogue é só uma. Estamos pior do que estávamos em 2005. Sócrates falhou a sua oportunidade. Não merece outra.