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Jamais

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13
Ago09

O que está em causa (2)

Miguel Morgado

Há um ano quando a crise internacional chegou imunda e grossa, foi-me perguntado na rádio se isso não seria um grande azar para Sócrates. Eu respondi: bem pelo contrário. Seria um verdadeiro momento salvífico. Porque até 2008 o governo PS era, segundo os seus próprios critérios, um tremendo fracasso. Pelo menos, a crise revesteria os actos de uma gravidade que só as emergências conseguem gerar, e recolocaria o governo no centro da esperança de um eleitorado assustado e desorientado. Sobretudo, a crise internacional daria um pretexto do tamanho do mundo inteiro - estão todos "como nós, ou pior", o que não é inteiramente verdade, mas enfim - a tudo o que viesse a acontecer. Há uns dias referi-me à "paragem árida e feia" a que Portugal foi trazido. Essa paragem não é o ano 2009, toda a aridez e fealdade já lá estavam no início de 2008.

Outra coisa que me pareceu mais ou menos evidente, é que a oportunidade da crise - como diria Obama - para um governo falido seria esprimida como se não houvesse amanhã. Se a crise é que nos (governo) veio salvar, então é com ela e em torno dela que se tem de reconstruir o caminho da governação. Ora, isto acarreta um perigo enorme. Porque permite que o horizonte da crise internacional encerre as escolhas políticas de Portugal, quando toda a gente já percebeu que quando a crise internacional passar, a nossa muito portuguesa ficará. Esta cegueira nota-se particularmente na defesa cega que os apoiantes do governo fazem do Estado e da intervenção do Estado. Vou deixar de parte os disparates divulgados pela propaganda socialista, e que outros seres pensantes limitam-se a papaguear, sobre o PSD e o "Estado mínimo" ou sobre o neoliberalismo. São historietas para assustar criancinhas, mas que qualquer pessoa inteligente ignora. Quando falo da idolatria do Estado, refiro-me à tendência que se instalou nos últimos meses entre os socialistas para exortar à expansão do Estado, não por razões circunstanciais (a crise, o período de emergência), o que poderia ter algum mérito, mas de forma definitiva.

Num país onde as despesas do Estado chegarão aos 50% do PIB, onde metade da população vive directa ou indirectamente do apoio do Estado (cerca de 4 900 000, contando com pensionistas, desempregados, funcionários públicos, rendimento mínimo de inserção, etc.), com mais a chegar atendendo ao envelhecimento da população, onde há um ministério e uma burocracia a cada esquina, assusta-me que o outro lado moderado da política portuguesa opte pelo caminho da estatização da sociedade. O segredo do PS é estatizar a sociedade e fazer grandes obras públicas. Pelo caminho, rotula de neoliberalismo quem ousa contestar o plano, e acusa de ódio ao investimento público quem se atreve a criticar a sanidade e a oportunidade da coisa. Com o patrocínio do peculiar governador do Banco de Portugal, desvaloriza o endividamento externo, quando qualquer pessoa compreende que o ritmo de crescimento (ignoremos o nível) do endividamento português é o enredo das histórias financeiras de horror que se sucedem na América Latina.

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5 comentários

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Jamais - Advérbio. Nunca mais, outra vez não, epá eles querem voltar. Interjeição muito usada por um povo de dez milhões de habitantes de um certo cantinho europeu, orgulhoso do passado mas apreensivo com o futuro, hospitaleiro mas sem paciência para ser enganado, solidário mas sobrecarregado de impostos, com vontade de trabalhar e meio milhão de desempregados, empreendedor apesar do Estado que lhe leva metade da riqueza, face à perspectiva terrível de mais quatro anos de desgoverno socialista. Pronuncia-se à francesa, acompanhado ou não do vernáculo manguito.

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