Pelo Público, fico a saber que o líder do PS-Madeira, João Carlos Gouveia, acusou Alberto João Jardim de "vontade totalitária" e "fascismo social". O PS, mais uma vez, insiste em colar o PSD ao fascismo, agora apondo-lhe o adjectivo "social". O que não quer dizer nada, mas soa sempre bem aos ouvidos mais dados à simplexidade.
É surpreendente, porém, que os socialistas ainda usem este espantalho. Ou talvez não. Furet mostrou há muito que o antifascismo foi a grande fonte de legitimidade da esquerda europeia no pós-guerra. Seis décadas e meia depois da derrota de Hitler e Mussolini, trinta e quatro anos depois do 25 de Abril, o partido do Eng. Sócrates continua a viver no passado. Por muito progressista que queira parecer, com "novas oportunidades" e "choque tecnológico", a longa sombra do Prof. Salazar é o que vai na alma dos fiéis. Avançar Portugal? Para onde? Para o reviralho?
A dependência de tal estribilho acaba por ser tão forte que o repetem mesmo quando dá maus resultados. Aconteceu na campanha contra Santana Lopes à Câmara de Lisboa, aconteceu contra Cavaco nas presidenciais. Santana ganhou, Cavaco também. Nem assim o PS aprendeu. Por uma razão simples: a mitologia do antifascismo é hoje um dos poucos símbolos da sua identidade de esquerda. Foi-se a utopia da sociedade sem classes, ficou a demagogia do monopólio da liberdade.
Mas esta retórica tem um risco: banalizar a acusação. Chamar todos os dias fascista ao adversário desvaloriza o fascismo e, portanto, retira-lhe peso como arma de arremesso. Dizia o grande Marc Bloch que as palavras são como as moedas - à força de muito uso, perdem o relevo original. Eis porque Santana e Cavaco venceram. Note-se que o PSD cometeu o mesmo erro quando Aguiar Branco, em comício no Pontal, acusou o PS de ter uma "visão sovietizada da sociedade". A frase foi certamente fruto do entusiasmo. Se viesse de um socialista, seria fruto do hábito.
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