Clarificando as coisas (II)
Em 2005, a CGD, na "fatia de leão", e a Sumolis, numa parte menor, compraram a Compal por um valor considerado polémico, de 426 milhões de Euros. Havia mais cinco concorrentes interessados na compra mas, à época, defendeu-se, era necessário seguir um "desígnio estratégico", assegurar que a Compal ficasse em "mãos nacionais". O preço pago à Nutrinveste representava 16 vezes o cash-flow operacional da Compal; alguns dos concorrentes alteraram, quer para o impacto negativo que a intervenção do Estado estava a ter no funcionamento do mercado, quer para o uso indevido do dinheiro dos contribuintes numa compra que visava favorecer, quer a Nutrinveste, quer a Sumolis numa posterior alienação - que se traduziu em 2008 numa simpática operação de cosmética, pela venda de parte das acções, e pela entrega, das restantes, por uma "troca de participações", em que a CGD ficou accionista de uma nova empresa, resultante da integração da Sumolis com a Compal.
Há diferenças entre este PSD e o PS. É bom ir, como o João Galamba bem refere, "clarificando as coisas". Eu defendo mesmo um Estado mais neutro, que assegure a igualdade de oportunidades entre todas as empresas nas medidas e nos apoios que promove. Não cabe ao Estado favorecer empresas em concreto, por considerar "que produz[e]m bens de elevado valor acrescentado"; tão pouco compete ao Estado "contribuir para mudar o paradigma produtivo português", apostando directamente numas empresas, em detrimento de outras. Cabe ao governo promover ambiente económico competitivo, e não desenhar a economia a regra e esquadro. Agrada-me que o PSD tenha uma estratégia para as PME's, e não apenas para as PME's que, por uma qualquer razão, definida num gabinete escondido, encaixam no que o governo considera serem "desígnios estratégicos".
Porque todos sabemos bem o que vai na alma deste PS, quando nos vende "desígnios estratégicos": levar algumas empresas ao colo. Como aconteceu no negócio da Compal. No "Magalhães". Na reconstrução das escolas. Na energia solar. E em tantos outros domínios. O João Galamba faz aqui a sua escolha, que respeito - "é pelo dirigismo". Eu, dirigismos destes, assumidamente, dispenso.