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Jamais

Jamais

24
Jul09

Expectativas e programas eleitorais

Paulo Marcelo

A expectativa cresce de dia para dia. Sócrates anda ansioso e os socialistas não falam de outra coisa. Certos comentadores e jornalistas ficam mesmo excitados quando  falam do programa eleitoral do PSD.  Este fenómeno de ansiedade colectiva mostra duas coisas.

A primeira é a convicção generalizada da probabilidade do PSD vir a ganhar as eleições de Setembro. Ou seja, que o programa eleitoral se pode vir a transformar, versão revista e aumentada, em programa de governo. Se assim não fosse acham que alguém ligava alguma coisa a umas dezenas de folhas de impressas com letras e números?

A segunda é que falar verdade eleva as expectativas. A credibilidade de Manuela Ferreira Leite leva a que as pessoas queiram ouvir o que ela tem para dizer. Por contraste, depois de tantos anúncios e powerpoints socialistas, são poucos os que ainda ligam alguma coisa à propaganda de Sócrates e do seu governo. Faz lembrar aquela fábula The Boy Who Cried Wolf (desculpem a parolada do inglês, mas não sei o nome em português), depois de tantos falsos alarmes, quando veio o lobo já ninguém acreditou. Algo parecido ocorre quando Sócrates, ou o seu novo porta-voz sorridente, falam de uma nova medida para o futuro: poucos ouvem ou levam a sério.

Um último ponto. Não consigo perceber as críticas socialistas à pretensa falta de programa do PSD quando os socialistas ainda não apresentaram o seu documento. Eu pelo menos ainda não vi, onde está o programa camaradas?

 

      

24
Jul09

Por favor: que haja duas sem três

Maria João Marques

Durante muito tempo considerei impossível Sócrates ser pior Primeiro-Ministro que o expurgado de coluna vertebral António Guterres, esse senhor com o talento inigualável de escancarar as finanças públicas num momento de expansão económica (e em quem eu me dei ao trabalho de votar como 'o pior português de sempre'), mesmo reconhecendo como preocupante o número de ministros convidados por Sócrates que vinham reciclados dos governos Guterres. Enfim, com o estilo antipático e mal-educado que Sócrates cultivou desde os seus inícios, contrastando com a moleza de Guterres, e com a apetência pelo conflito e a vontade de se revelar como alguém que esmaga o descontentamento social, ao contrário do seu mentor que se vergava perante o menor sinal de contestação, parecia que alguma coisa poderia até ser feita pelo novo governo. Está claro que me enganei. Sócrates, com toda a arrogância e petulância, não conseguiu reformar nada: houve anúncios (e como houve anúncios!), houve intenções, não houve concretizações. Ao mesmo tempo que aumentava a carga fiscal em mais de 30%, Sócrates usava sem pudor receitas extraordinárias, que tanto havia criticado, para minorar o défice orçamental. Ao contrário da propaganda que durante anos vigorou, não houve qualquer contenção orçamental, aproveitando-se os gastos públicos para se criarem situações de dependência do estado tanto nas famílias como nas empresas, de forma a existir uma clientela fiel ao partido socialista - e esta é talvez a mais funesta faceta deste governo, que tudo fez para ganhar uma influência tentacular em todos os sectores da sociedade, minando a independência e a privacidade dos indivíduos (quer com diminuição do rendimento de que podiam dispor livremente, quer com cartões únicos, super-polícias, chips nas matrículas dos automóveis ou pressionando a comunicação social das mais obscuras às mais claras formas) exigindo apoios, respeito, e, na altura própria, votos. Guterres nada fez senão gastar; Sócrates nada fez senão gastar com tendências pouco respeitadoras da liberdade alheia. Estão bem um para o outro e tenho a certeza que partilham amigavelmente o mesmo pântano. A 27 de Setembro teremos oportunidade de mostrar que preferimos terra mais salubre.

21
Jul09

Sócrates falhou a sua oportunidade, não merece outra.

Jamais

Há quatro anos, pela primeira vez na sua história, o PS ganhou uma eleição com maioria absoluta. Ao lado dele, a restante esquerda – o PC, o Bloco – cresceu. Isso significa que muitos eleitores do chamado centro e da direita (em Portugal partidariamente identificados com o PSD e com o CDS/PP) contribuíram para essa maioria. Sócrates não se tornou absoluto pela esquerda. Foi a direita, desagradada com o interregno de 2002-2004, que “ajudou” o PS de Sócrates a voltar ao poder que ocupa quase ininterruptamente há catorze anos.

 

O mandato que o PS recebeu – para fazer o que devia ser feito – redundou, afinal, num exercício frívolo e quase unipessoal destinado a apontar cada um dos portugueses como um inimigo potencial, uma corporação. Em vez de governar para as pessoas, Sócrates e os seus dedicaram-se a governar contra as pessoas. Em vez de “reformar”, essa jargão sem conteúdo útil a não ser o da propaganda analfabeta, o PS limitou-se a limpar algum pó e, no essencial, a estragar a mobília. Em vez de colocar o partido ao serviço do Estado, o PS apropriou-se do Estado para servir o partido. Em vez de estimular a dita sociedade civil, Sócrates e os seus obrigaram-na à mais rude das dependências e à mais infame das complacências. Partido do “código genético” da democracia, o PS, com Sócrates, representa hoje em dia uma séria ameaça às liberdades formais e materiais da cidadania.

 

Tomado de assalto por pessoas sem um módico de cultura democrática, o PS de Sócrates deixa um país mais periférico do que aquele que recebeu da chamada direita em 2005. É esse país que este blogue procurará denunciar nas próximas semanas propondo, em alternativa, que os seus leitores optem, em Setembro, por uma maneira diferente de encarar a política. Isto é, por um registo que valorize a verdade em vez da imagem, a realidade em vez da fantasia, a credibilidade em vez de uma tortuosa e difícil relação com a verdade.

 

Temos a noção de que a política, em democracia, é imperfeição, erro, tentativa, contingência e autoridade imposta por si mesma e não por birra ou por tiques de autoritarismo parolo. E de que não se governa para uma abstracção ou em nome de uma abstracção chamada, por exemplo, esquerda moderna. Portugal não está condenado a ser um laboratório de experimentalistas de ocasião agarrados a lugares-comuns sem sentido. A verdade deste blogue é só uma. Estamos pior do que estávamos em 2005. Sócrates falhou a sua oportunidade. Não merece outra.

 
João Gonçalves

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Jamais - Advérbio. Nunca mais, outra vez não, epá eles querem voltar. Interjeição muito usada por um povo de dez milhões de habitantes de um certo cantinho europeu, orgulhoso do passado mas apreensivo com o futuro, hospitaleiro mas sem paciência para ser enganado, solidário mas sobrecarregado de impostos, com vontade de trabalhar e meio milhão de desempregados, empreendedor apesar do Estado que lhe leva metade da riqueza, face à perspectiva terrível de mais quatro anos de desgoverno socialista. Pronuncia-se à francesa, acompanhado ou não do vernáculo manguito.

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