Na campanha eleitoral, ouvindo-se o PS e também jornalistas e comentadores oficiais, alguém desconhecedor da nossa tragicomédia política da última década pensaria que Manuela Ferreira Leite foi até agora Primeira-Ministra e que José Sócrates é um rapaz brilhante que nunca teve responsabilidades governativas. O programa eleitoral do PSD é escalpelizado e criticado enquanto o programa eleitoral do PS - essa maravilha da caridade forçada dos contribuintes e que parece mesmo considerar que no longo prazo estamos todos mortos e não nos devemos preocupar com quem paga as nossas contas - é poupado. As contradições, reais ou supostas, de Manuela Ferreira Leite são enfatizadas enquanto José Sócrates impunemente acusa o PSD daquilo que ele próprio é culpado, finge que não percebe questões difíceis que lhe são colocadas, reinventa diariamente a nossa boa vida ou mente mesmo objectivamente (Sócrates afirmou que baixou os impostos!). E poderia continuar.
No entanto essa meretriz que é a realidade não deixa de ser implacável. José Sócrates foi Primeiro-Ministro nos últimos quatro anos e meio. José Sócrates não melhorou os serviços públicos. José Sócrates não seguiu uma política que incentivasse o crescimento económico e o emprego; durante a sua legislatura vivemos uma estagnação económica, numa época em que a economia mundial crescia viçosamente. José Sócrates limitou de forma inaceitável liberdades, quer a de imprensa (leis, pressões, processos judiciais), quer a económica (reforçou o intervencionismo estatal; escolheu dscricionariamente que empresas - sempre respeitosas, claro - ajudar com subsídios, promovendo também a dependência do Estado), quer a privacidade (cartão único). José Sócrates encenou a sua governação como nenhum outro PM de uma democracia ocidental. José Sócrates aumentou a carga fiscal substancialmente. E José Sócrates fez tudo isto desbaratando as vantagens de uma maioria absoluta no Parlamento e um Presidente da República cooperante.
Por muito que queiram convencer os eleitores de que os culpados de tudo são os 'mauzões do PSD' (para escrevermos no nível intelectual do PS nesta camapnha), a verdade é que o PSD governou três anos nos últimos quatorze. E por muito que Sócrates queira emular Obama (não esqueçamos os consultores obâmicos da campanha socialista), as posições de socialistas e democratas estão do avesso. Os democratas em 2008 estavam longe da Casa Branca há uma série de anos e o último período de grande prosperidade e confiança económica havia sucedido com Bill Clinton. Ora esta posição pertence ao PSD, que não governou na última legislatura e teve com Cavaco Silva a década de ouro pós-25 de Abril. É a vida.
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