24
Set09
Os socialistas e o fantasma de Salazar
Miguel Morgado
Em campanha eleitoral é costume recorrer a argumentos de ataque ao adversário. Não há mal nenhum nisso. Mas o PS optou por invocar o fantasma do salazarismo no ataque a Manuela Ferreira Leite. Os arautos socialistas da democracia precisam de saber que o seu comportamento é, sem qualquer exagero, anti-democrático, e que, por isso, precisam de umas liçõezinhas de democracia.
Ao acenar com o espectro do papão da política portuguesa - pois é esse sobretudo o papel que Salazar desempenha no nosso empobrecido discurso político - o PS trata os portugueses como criancinhas que se recusam a comer a sopa. Amedrontam os portugueses com mentiras. Ao infatilizar o eleitorado, o PS atenta directamente contra o espírito democrático na medida em que a democracia é o regime que precisamente retira todas as consequências da recusa de tratar os cidadãos de uma mesma comunidade política como crianças ou como retardados. O discurso do PS é tipicamente "paternalista" - e, nessa medida, tresanda a Antigo Regime. Não pode, portanto, ter lugar num espaço público livre e democrático.
Em segundo lugar, anatemizar um adversário - já que é esse o sentido de, em Portugal, apelidar alguém de "salazarista", "salazarento" ou outra treta qualquer desse tipo - é evidentemente desqualificá-lo. Ora desqualificar um adversário deste modo, através da mentira consciente e da associação histórico-política arbitrária, significa recusar-lhe um estatuto paritário, isto é, significa não aceitar a sua essencial igualdade como interlocutor no espaço público. Não custa muito perceber que essa é uma violação gritante do espírito democrático.
Os democratas que por aí andam a desfilar à espera que se lhes reconheça uma qualquer aura de democraticidade fariam melhor em procurar um espelho. Sempre evitavam o ridículo. E o povo português tem de lhes dizer de uma vez por todas que não admite que o tomem por parvo.
