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Jamais

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25
Set09

De bandeja

Carlos Botelho

 

 Convido-vos a virem até aqui ao lado esquerdo ler este texto. Se o conseguirem ler todo (tarefa quase literalmente espinhosa, tal o palavreado: 'desta forma, extirpa-se a própria dialéctica no seu movimento perpétuo e prefere-se a cristalização monolítica e propagandística' ou 'o poder é multidimensional e [o Bloco] proclama a sua presença em todas as lutas contra as multiformes garras da dominação'), verão que parece servido numa bandeja ao engenheiro Sócrates - imagino os "teóricos" Lello e Santos Silva deliciados com aquela prosa. Digam lá que não poderia ter sido (mal) redigido por algum membro da Juventude "Socrática", aflito por mostrar serviço não só contra a "direita salazarenta", mas também "malhando" com volúpia na "esquerda arcaica"!

 

Todo o texto ressuma um muito mal disfarçado desprezo pelos trabalhadores (não tenhamos medo das palavras) - note-se que as "opressões" da moda (as "fracturâncias", que adornam, descartáveis, a propaganda "socrática") são apresentadas praticamente como a "opressão" por excelência, enquanto que as preocupações pela "opressão do trabalho" (que é real, como sabe quem não viva na lua ou nas sucursais do Largo do Rato) são descritas como um confinamento político, uma redução.

Esse desprezo pelo "mundo do trabalho" não existe, por óbvias razões históricas e ideológicas, na "mundividência" do PCP. Mas também não existe na "mundividência" e na prática do "centro-direita" e "centro-esquerda" (representados pelo PSD). Podiamos pensar na génese não-casual das três setas do Partido. Por outro lado, por razões históricas e sociológicas, pela sua proximidade e integração no tecido vivo das pequenas e médias empresas, pela presença conspícua de militantes do Partido em estruturas sindicais da função pública, o PSD tem considerável capacidade de percepção e de intervenção no próprio terreno do "trabalho". (De certo modo, com todas as suas diferenças programaticamente intransponíveis, o PSD e o PCP acabam por ser os Partidos mais próximos do "povo".)

 

O texto de João Teixeira Lopes não deixa de reflectir aquilo que o Bloco de Esquerda é: um aglomerado ideologicamente gelatinoso, apressado em dar sinais ao Partido Sócrates2009 que pode ser um parceiro de confiança, que os une o "combate" às formas de opressão mais "modernas", etc. Como? Atacando pelas costas o seu "irmão" ideológico, o PCP, usando os mesmos argumentos que Sócrates tem arremessado contra o "arcaísmo" dos Comunistas para poder sobressair como o representante da "esquerda moderna".

 

O Bloco de Esquerda é, à esquerda, como o é o CDS à direita, o melhor seguro de vida do engenheiro Sócrates.

 

 

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Jamais - Advérbio. Nunca mais, outra vez não, epá eles querem voltar. Interjeição muito usada por um povo de dez milhões de habitantes de um certo cantinho europeu, orgulhoso do passado mas apreensivo com o futuro, hospitaleiro mas sem paciência para ser enganado, solidário mas sobrecarregado de impostos, com vontade de trabalhar e meio milhão de desempregados, empreendedor apesar do Estado que lhe leva metade da riqueza, face à perspectiva terrível de mais quatro anos de desgoverno socialista. Pronuncia-se à francesa, acompanhado ou não do vernáculo manguito.

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